sabato, settembre 25, 2004

Sem Título

Não sei se é fase, espero que não. Ando contactando pessoas. Ontem fui mostrar umas músicas novas e velhas pra Amanda Acosta, amiga atriz e cantora e mostrei Nexo do Sexo. Há tanto tempo não tocava e deu um gosto bom na boca. Não esqueci um acorde, mas ela disse que não entendia a letra porque eu cantava muito pra dentro. Aí dei uma espreguiçada na voz e saiu melhor. Mesmo assim ficou claro que tenho problemas com meu trabalho. Com o jeito de mostrar e de confiar nas coisas que crio. Como se, seguindo o exemplo da voz, eu "escondesse" as músicas. Meu maior desejo é que todo mundo ouça, então um caminho é postar aqui. Vou também escrever a letra, que é fantástica, do Pedro Abramovay e Matias Mariani.

Acho que numa das épocas mais divertidas da minha vida eu compunha coisas mais alegres. Foi inevitável, escrevendo um semanário como esse, que eu fuçasse em coisas antigas. Velhas animações toscas feitas em sulfite e escaneadas uma a uma, músicas e mais músicas, textos entre outras coisas, todas em CD. Nexo do Sexo é uma música que tocamos, nessa formação, com a Lígia Casella na voz, o Pablão, que toca comigo até hoje, no violão de aço (acho que ele nunca mais pegou nesse violão), a guitarra de veludo do Adriano, Totó na batera, num daqueles retornos à música, o louco do Lelo Papã na percussão e eu no baixo. A banda se chamava Salivadela, depois virou Maria Beltrana. Mais tarde, sem a Lígia, mas com Halei Rembrandt na voz, a banda se chamou (essa pouca gente lembra) Pé de Cachimbo.

Pra não perder o bonde, tinha uma música, com letra da Lígia, que compus pensando naquele disco do Fagner em que ele canta uns Flamencos, acho que se chama "Traduzir-se", o disco. Tinha esquecido completamente da existência da música. Quero arranjá-la melhor e chamar a Lígia pra cantar, se ela quiser. Na gravação de referência são meus os violões. Na letra da Lígia o título dizia
"Além da Beira d´Água".

Nexo do Sexo

Cavidade ávida de vida
Vem velada em negro véu vistoso
Envolve a dádiva divina
Vinda do pétreo poço por entre gozos

Pétreo portador de proto-pessoas
Vidas e não vidas virtuais
Possibilidades e nada mais
que vãs combinações a toa

Mas se a vida do prazer provém
Provem desse fruto permitido
Pelo qual o próprio ser é concebido
E ao jorrar o bojo de sua jóia diga amém

Amem, amem, amem, amem
Esguia, enguia, és guia
Da extrema sensação não sensata
Ao teu sibilo tudo silencia
Silenciosamente cada nó desatas

Portal, pirâmide inversa,
Em todo prazer está imersa
Única possuidora do porvir
Puta dona do meu rir

martedì, settembre 21, 2004

Insuficiência Cardíaca

Minha cachorra não descansa mais. Sim, ela é feliz, como não haveria de ser, sendo tão bem cuidada?
Mas sabe, assim, pra perceber angústia num cão a gente tem que sentir e é um tanto triste, mesmo com a catástrofe no Haiti.
É como um pedido delicado de socorro, já que o pedido desesperado só virá próximo à morte.
Minha mãe disse pra eu não ficar neurótico. Compreendo perfeitamente as vantagens duma postura mais fria. Na verdade alterno as duas... cheguei a refletir sobre uma possível visão mais budista desse assunto, mas escolhi o oposto.
Assim, mergulhei meio fundo demais e agora falta ar pra voltar.
Faz uns dias, disse num e-mail pra Silvia que às vezes queria que ela morresse logo, pra ela descansar finalmente, e eu também.

Pra dar uma descontraída vou postar um trechinho em vídeo do meu ecocardiograma, exame que fiz, na verdade, pra ser projetado num estande da Sociedade Brasileira de Cardiologia faz quase dois anos.
Acredito que meu coração ainda esteja saudável.

Obs: uma dica, se não baixar clicando normalmente, é clicar com o botão direito do mouse e "save link as" ou "salvar destino como", qualquer opção em que ele salve o arquivo no HD. Aí é só abrir.

ecocardiograma

As Costas das Páginas

As costas das páginas foram feitas pra sentir coceira do lápis. O subaproveitamento da folha de papel se deve, em muito, a este desperdício. É claro, existem aqueles surtos de loucura em que as impressoras traçam duas linhas de hieróglifos indecifráveis e cospem fora a folha, como chiclete azedo. Nos escritórios viram folhas de rascunho, é vero, mas nos velhos caderflex, de folhas finas, e nos cadernos de música, de folhas pautadas, meus velhos companheiros ainda têm muito espaço pra guardar estórias. Lembram daquele último verso da letra do Toquinho, sobre o caderno? "...não me esqueça num canto qualquer", pois sim: revirem suas velharias, se ainda existirem. Economizem a energia das fotocopiadoras e computadores. Acariciem suas costas com versos, conversas, desenhos, desvarios, rascunhos, recados de ligações telefônicas, apague ou rasure tudo depois, se quiser, com borracha ou lápis, mas faça uso, não enfeite.



Microfone e Melodia

Hoje comprei um microfone e um pedestal. É um Le Son daqueles modelos mais interessantes, que eles chamam de profissional. Quebra um galho pra fazer vocal nos shows da Feira, entre outras coisas. Mas a minha intenção mesmo é usar pra gravar minhas referências de cello, violão e outros instrumentos. Antes eu pedia emprestado. É claro que pra qualquer gravação profissional tem que ir pra estúdio. Mas estou feliz com o mic. Fiquei tentando gravar uma melodia triste que me apareceu hoje. Chamei-a de Melodia Triste. É só um pedaço e, apesar da minha empolgação com o microfone novo, gravei umas 40 vezes e todas ficaram ruins. Quer dizer, gosto da melodia. É questão de amadurecer a interpretação. Demora uns dias pra coisa sair. É engraçado, às vezes é questão de deixar a música relaxar, descansar. Mesmo assim, quando a gente grava tudo transparece mais e aí não tem salvação. Vou postar a melodia porque afinal de contas não quero ter passado esse tempo em vão. Tô estudando, pô. Mas já tô vendo que essa melodia vai entrar pro repertório que um dia tocarei acompanhado de violão. Incluindo aquele Piazzola "Café 1930", da história do tango.

Melodia Triste